Família presente e ausente
Ouço os meu tetravós, já idos, com frequência. Sei que estão presentes e querem ajudar os seus descendentes.
O gabinete onde trabalho tem um quadro a óleo de um tio oitocentista. A sua presença sente-se demasiado. Pensei em retirar o quadro, mas há algo no sangue que mo impede. Sei, ao mesmo tempo, que o tio me quer avisar de qualquer coisa, mas confundo esse apelo com a sua má experiência com a (mesma) tarefa que executo presentemente, sem que a barreira do tempo tivesse alterado a sua cadência ou modo de operar. Enfrento os olhos do tio e digo-lhe que a minha experiência e actividade equilibrará a sua angústia. Aguardo a sua resposta serena há já dois anos.
Mais recentemente, sem que se fizesse adivinhar, vejo uma bisavó aparecer num sonho. Ela abraça-me com força, ri comigo e desaparece a correr, querendo avisar-me de algo. Compreendo a sua mensagem - pede-me apoio terreno que falta na família para com os mais velhos fundamentalmente. Mas eu não sou digno de ser escolhido sozinho. Peço-lhe que reconsidere e que disperse a sua missão por outros familiares.
Tenho a minha família comigo - a passada e a presente. Percorro com todos eles a minha vida, sem qualquer receio. Pois o meu presente depende do seu passado, inelutavelmente...
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