sábado, 14 de abril de 2007

À grande e à portuguesa

Há algo de paradoxal nos portugueses: tanto invejam de forma atroz, como enaltecem da mesma forma. É curioso reparar, contudo, que os mesmos que hoje apontam o dedo a esta ou aquela personagem pública, cedo se deslumbram com as mordomias do poder, quando o alcançam.

Lembro-me de vários episódios recentes (como aquele político que viveu anos, poucos felizmente, num edifício militar, com a família e gastava que nem outro), mas o mais emblemático passou-se no século XVII.

Tratava-se de um banquete, numa embarcação, no Tejo ao largo de Lisboa, em honra a corpo diplomático inglês. Banqueteou-se do bom e do melhor em serviço de prata do mais fino. E, a certa altura, os portugueses, para demonstrar a sua grandeza, atiraram o serviço de prata borda fora. Noblesse oblige, os ingleses lá tiveram que fazer o mesmo, a contragosto. Mas o melhor da história está para vir. De facto, a tripulação combinara, em segredo, uma manobra de diversão: sem que a corte portuguesa soubesse, a embarcação estaria rodeada de redes, para depois recolher a prataria e vendê-la, mais tarde, para dar uns cobres.

Episódio interessante e retrato fidedigno da sociedade portuguesa. Nada mudou, infelizmente.

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