terça-feira, 3 de abril de 2007

Olissipografia 12: a conquista de Lisboa aos mouros em 1147

As primeiras notícias que temos da Lisboa portuguesa não deixam de ser curiosas. A Lisboa muçulmana mantinha um Bispo católico, que, durante a ocupação, foi morto pelos francos (facto curioso, mas de confirmação duvidosa).

Indubitável é a nota do célebre epístola do cruzado inglês ao tempo, na qual se narra a restauração (e não instalação) da diocese de Lisboa, com um Bispo português (o primeiro) à sua frente:

"Tomada, pois, a cidade, após dezassete semanas de cerco, os habitantes de Sintra fizeram oferta da guarnição do seu castelo e entregaram-se ao rei. Por sua vez, o castelo de Palmela foi abandonado pela sua guarnição e foi tomado pelo rei já sem ninguém. Rendidas, pois, todas as fortalezas que nas redondezas estavam ligadas à cidade, foi celebrado o nome dos francos por todas as terras de Espanha e abateu-se o terror sobre os mouros aos quais ia chegando a notícia destes acontecimentos.

Seguidamente, foi eleito para a sede episcopal um dos nossos, Gilberto de Hastings, tendo dado o seu assentimento para a eleição o rei, o arcebispo, os bispos, o clero e todos os leigos. No dia em que se celebrava a Festa de Todos os Santos, em louvor e honra do nome de Cristo e da Sua Santíssima Mãe, foi feita a purificação do templo pelo arcebispo e por mais quatro bispos sufragâneos 24 e restaurada a diocese como sede do episcopado, com os seguintes castelos e terras: para além do Tejo, o castelo de Alcácer, o castelo de Palmela, a zona de Almada; aquém do Tejo, o castelo de Sintra, o castelo de Santarém, o castelo de Leiria. Os limites vão do castelo de Alcácer até ao castelo de Leiria e do mar, a ocidente, até à cidade de Évora."

2 comentários:

Jagoz disse...

Fica o amigo publicano advertido que, nessa altura, não havia bispos «católicos», mas apenas «bispos». A heresia anglicana ainda vinha longe.
Em todo o caso, sempre vi a autoria material de tão nefando crime atribuída aos cruzados teutónicos (dando um traço histórico à proverbial subtileza germânica). Creio aliás que essa referência consta dessa mesma crónica, inclusivamente num registo irónico do autor, claramente percursor do típico «humour» britânico (já nessa altura os ingleses não perdiam uma oportunidade para escarnecer dos alemães). Penso que a confusão com os «francos» talvez advenha do facto de a moirama apodar genericamente todos os cruzados de «francos» («franj»), o que se explica pelo facto de a primeira cruzada ser quese integralmente constituída por francos - e, digo eu, uma forma singela de homenagear a estupidez gaulesa que grassou por aquelas paragens... Ainda hoje os ocidentais sao designados por «franj», independentemente da actual nacionalidade.
Ab.

O Exactor disse...

Caro Jagoz,
A descrição pode ser do passado, mas o meu texto é do presente. Assim, a "heresia anglicana" faz todo o sentido, em nome da liberdade religiosa!