domingo, 22 de abril de 2007

Olissipografia 15: périplos imaginários

Recuo no tempo, até ao ano de 1650 e aterro perto das portas de Santa Catarina. Olho em direcção ao Castelo e reparo que, à minha direita, se encontra a Rua do Tesouro, onde predomina, mais lá em baixo, o Paço dos Bragança. Começo a descer a Rua, com o Tejo de fundo, e passo pelo picadeiro da casa ducal. Bem sei que El-Rei D. João IV deslocara a sua habitação para o Terreiro, recentemente, mas ainda denoto movimentações de carruagens e sinto o cheiro a cavalariça. Não me atrevo a entrar, porque não me quero desviar do meu principal objectivo - visitar o Paço dos Bragança.

O Paço dos Bragança é, no entanto, uma decepção. Apesar de albergar o arquivo, o tesouro e a guarda das jóias, o aspecto, exterior e interior, evidencia necessidade de obras urgentes. O paço é vastíssimo e está rodeado de hortas e pomares. Percebe-se perfeitamente que, no século anterior, estas propriedades foram expandidas, pois os vizinhos, frades (da cidade, sim aquilo é uma cidade dentro de uma cidade!) de S. Francisco, ficaram confinados ao Convento e nem a Igreja Velha dos Mártires ("Martens"), na parte sul do dito convento, deixa lugar a mais expansão.

Chego ao terreiro, em frente ao Paço, e vejo-me no topo de um monte que, na conquista de Lisboa, no século XII, albergou as forças inglesas e percebo da sua força estratégica. Olho para baixo e vejo, ao fundo, a antiga praça dos Remolares (corruptela de remadores, talvez), que é dominada pela família Sodré (António, Duarte e Vicente, descendentes de um tal de Frederico de Sodré) e, mais de perto, vejo a construção do Convento de São Domingos e de Nossa Senhora do Rosário, que ficará conhecido pelo culto de São Telmo, o padroeiro dos pescadores (o Corpo Santo).

Acordo, porém, ainda absorto, numa Lisboa do século XXI, que nada mais é uma sombra do que foi outrora.

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