quinta-feira, 14 de junho de 2007

Honra entre cavalheiros


Hoje assisti a um duelo de cavalheiros. Tinha sido tudo combinado, como manda o preceito antigo: cartas trocadas, ofensas identificadas, havia que determinar o local e a hora. Pois bem, dezoito e trinta, na Ameixoeira. Os padrinhos estavam identificados e a arma era o sabre, sendo o juiz de campo um terceiro imparcial devidamente notificado. O encontro seria curto: o primeiro toque determinaria o vencedor.

A coisa foi de facto bizarra, tratando-se de algo que já está em desuso na sociedade portuguesa, há muito. Mesmo assim os dois intervenientes, ambos licenciados, sabiam disso e não abdicaram desta batalha pela honra. A partida não durou mais do que dois minutos, pois um dos oponentes, mal o juiz de campo abriu as hostilidades, estocou o adversário, dando, em seguida, um valente soco nos queixos do mesmo, que se retirou de imediato. A honra ficou salva e ambos foram para casa, acompanhados pelos padrinhos.

Ainda se vê disto em Lisboa - e ademais tão próximo de mim. Fui o juíz de campo, notificado de manhã, e verdadeiramente imparcial ao problema colocado... Não deixa de ser melindrosa, mas a situação propiciada teve tanto de curioso, como de arcaico...

6 comentários:

Pedro Botelho disse...

Um soco nos queixos depois do primeiro ferimento, e apesar do previamente combinado?! E nenhum juíz ou padrinho desafiou o energúmeno?!...

Ou os toques eram só de brincadeira, como é costume quando a honra se transforma em divertimento popular?...

Pedro Botelho disse...

Permita-me estocar o acento do «juíz». Foi um lapso.

Pedro Botelho disse...

Perdoe o novo atrevimento, mas muito gostaria de ouvir uma justificação do murro nos queixos de um ferido em duelo «ao primeiro toque». Ou alternativamente -- se a coisa era a fingir, com sabres de borracha ou coisas desse género -- uma justificação do conceito de honra tal como encarado nos recreios dos miúdos.

Acredite que não se trata de provocação nenhuma, mas apenas de curiosidade antropológica.

O Exactor disse...

O duelo foi verdadeiro - os sabres tinham história e não eram de borracha.

Já quanto ao murro nos queixos, a coisa foi tolerada e aceite pelas partes envolvidas, porque já tinha sido declarada a vitória.

De facto, o assunto era muito delicado, mesmo...

Pedro Botelho disse...

Sem qualquer intenção de ofender quem quer que seja (livra!), nem me pretender totalmente isento de idiossincrasias por vezes algo disparatadas, sempre acrescento que se «primeiro toque» não queria dizer «primeiro sangue», nem estavam previstos mortos ou feridos, então o mais prático seria ter despachado logo a coisa com o soco nos queixos, dispensando os incómodos formais intermédios...

O Exactor disse...

Tem razão, de facto! Como sempre disse, a cena teve algo de disparatado e arcaico! Cavalheirismos...