terça-feira, 27 de março de 2007

Olissipografia 8 (memórias familiares)


Esta capela, na Rua de S. Domingos (à Lapa), traz-me recordações familiares agradáveis. Pertencente à antiga casa do Barão de Porto Covo da Bandeira, de seu nome Jacinto Fernandes Bandeira, faz parte do meu imaginário infantil. Actualmente pertence a um Clube Desportivo fundado pela Juventude Católica nos anos cinquenta, sob o olhar atento do Cardeal Cerejeira. Aí alberga os restos mortais do dito Barão e reza a história que o seu espírito ainda está presente e circula pelos corredores e anexos do Palácio, que conheço como a palma da minha mão (não obstante pertencer ainda à Embaixada Inglesa, na altura em que fiz a exploração).

Conta-se que, no início do século XX, por volta das seis e meia da manhã, um cocheiro aguardava a saída do seu patrão do palacete defronte do dito palácio. Era uma manhã de Janeiro e uma leve neblina cobria a cidade ainda escura. A rua, como acontece ainda hoje na sua madrugada antes da passagem do primeiro eléctrico (o 25), estava silenciosa, e ouvia-se o mais leve passo. A certa altura, o cocheiro olha para a parte baixa, perto das escadinhas que dão para as Janelas Verdes, e vê uma luz, parecida com um candeeiro a petróleo e que andava. Seria alguém que saía de casa àquela hora? A luz aproximava-se e não se via vivalma. Mais de perto reparava-se que era como que um candeeiro suspenso no ar que se preparava para subir a Rua de S. Domingos. Mas não, a luz parou em frente à capela, desceu rente ao chão e transpôs o edifício. Seria o Barão de Porto Covo a regressar a casa, depois de uma volta pela cidade que acolheu as suas especulações financeiras?

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