sábado, 17 de novembro de 2007

Crónicas de Bissau 1




É a primeira vez que venho à Guiné-Bissau. O embate civilizacional é muito forte.
Bissau vive sem iluminação pública há quase dois anos, sem qualquer interrupção. A deslocação nas estradas à noite é muito perigosa. Como não há regras de trânsito, vê-se de tudo. Carros em contramão, pessoas a atravessar a estrada nos sítios mais improváveis e buracos no alcatrão de meter medo.
Mas esta realidade não me demove a conhecer a vida nocturna, durante o fim-de-semana, aproveitando que os trabalhos começam na segunda-feira.
É de facto muito interessante perceber que a Guiné-Bissau está dominada por observadores internacionais.
Num bar próprio de início de noite travo conhecimento, e menos de 5 minutos, com a delegada da RTP áfrica, com o adido da cooperação portuguesa e com o delegado dos serviços secretos portugueses.
A conversa desenrola-se pela noite dentro e, sem que nada o faça esperar, vejo-me a ser guiado, juntamente com outros, numa carrinha da RTP pelo breu de bissau.
O bar internacional é abandonado para dar lugar a uma noite africana, numa boite muito melosa, sem que isso me impressione grandemente, pois sinto-me imune a este jogo... A jornalista é a líder da noite. Conversa-se até de madrugada, sobre tudo.
Sobre o futuro da Guiné, sobre a vida, sobre as aspirações pessoais. Percebo, receoso, que a realidade política guineense é muito frágil: com os militares e a classe civil em permanente conflito.
A noite acaba porém abruptamente, quando a amiga jornalista é contactada para se deslocar à fronteira do Senegal, para acompanhar uma notícia sobre tráfico de crianças.

Regresso para a residencial (uma excelente residencial, por sinal). A noite está perto do fim, mas ainda sinto os grilos (aos milhares - depois das chuvas, vêm os grilos, em Bissau) no alcatrão, na minha camisa, no meu quarto, dentro da cama. Resignado deito-me e penso que há coisas mais importantes na vida, para além de uma preocupação vã de matar estes animazinhos que insistem em dominar o espaço.

1 comentário:

Ana Claudia disse...

Bissau não tem iluminação, tem buracos na estrada (todo o ano), tem grilos (por poucas semanas)... A maior parte das vezes tá calor a mais. Mas esta terra, estas gentes, têm uma forma de nos fazer sentir bem, de nos mostrar um lado da vida e uma maneira de estar na vida q normalmente não conhecemos. Há um calor (para além do tempo) q nos conforta e nos faz desejar ficar aqui mais tempo, ou voltar, e voltar. Bem-vindo.