terça-feira, 31 de julho de 2007
O funcionário público português
A vida de um funcionário público português típico passa por uma forma de hedonismo imparável. É muito frequente falar-se em duas técnicas que, uma vez aprendidas, tornam-se verdadeiras bóias de salvação de qualquer sujeito ingressado na função pública, a saber:
(1) a técnica do CNC (ou do "chuta no cão"), que se baseia numa aprendizagem secular de "confiar" cegamente na cadeia (alimentar) hierárquica, podendo assim nunca sair responsabilizado por qualquer tipo de acto. Quer isto dizer que, na função pública, "quem se atravessa" corre o risco de não conseguir progredir por dar muito nas vistas;
(2) a técnica do TEF (ou do "toca-e-foge"). Sabendo-se instalado, o funcionário aprende a dissimular a sua canseira do dia-a-dia. Assim, o caloiro desloca-se a uma loja de grande superfície para adquirir, por tuta-e-meia, um par de óculos (não precisa de padecer de miopia ou estigmatismo) e um casaco que pareça sempre vistoso. A utilidade destes objectos é extrema, porque devem estar sempre presentes no local de trabalho, respectivamente, em cima da mesa, e nas costas da cadeira. A partir desse momento o funcionário está sempre presente (com toda a certeza, se não está sentado na mesa, é porque se deslocou para as instalações sanitárias).
Isto faz algum sentido, se entendermos a ideia de Keynes em garantir o pleno emprego, mesmo em depressão (pelo enterro de garrafas no fundo de minas, numa crítica, aliás muito certeira, ao velhinho padrão-ouro). Mas em Portugal esta letargia é pré-keynesiana. É óbvio que há excepções, mas calma...
(1) a técnica do CNC (ou do "chuta no cão"), que se baseia numa aprendizagem secular de "confiar" cegamente na cadeia (alimentar) hierárquica, podendo assim nunca sair responsabilizado por qualquer tipo de acto. Quer isto dizer que, na função pública, "quem se atravessa" corre o risco de não conseguir progredir por dar muito nas vistas;
(2) a técnica do TEF (ou do "toca-e-foge"). Sabendo-se instalado, o funcionário aprende a dissimular a sua canseira do dia-a-dia. Assim, o caloiro desloca-se a uma loja de grande superfície para adquirir, por tuta-e-meia, um par de óculos (não precisa de padecer de miopia ou estigmatismo) e um casaco que pareça sempre vistoso. A utilidade destes objectos é extrema, porque devem estar sempre presentes no local de trabalho, respectivamente, em cima da mesa, e nas costas da cadeira. A partir desse momento o funcionário está sempre presente (com toda a certeza, se não está sentado na mesa, é porque se deslocou para as instalações sanitárias).
Isto faz algum sentido, se entendermos a ideia de Keynes em garantir o pleno emprego, mesmo em depressão (pelo enterro de garrafas no fundo de minas, numa crítica, aliás muito certeira, ao velhinho padrão-ouro). Mas em Portugal esta letargia é pré-keynesiana. É óbvio que há excepções, mas calma...
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segunda-feira, 30 de julho de 2007
No termo de mais uma época de exames...
... o regresso à vida monástica, a descida às minas. É tempo de dizer como Séneca: "Já te dispuseste a pensar quanto tempo te é roubado pelos problemas de saúde, pelos teus deveres oficiais, pelos teus deveres particulares, pelos teus deveres quotidianos, pelo sono? Mede a duração da tua vida: não cabe lá muita coisa." (Cartas a Lucílio)
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Ingmar Bergman 4 (Såsom i en spegel)
"No tempo em que eu era criança, falava como criança, sentia como criança; mas quando me tornei homem, eliminei as coisas de criança. Hoje vemos como por um espelho, de maneira confusa, mas então veremos face a face. Hoje conheço de maneira imperfeita: Então conhecerei exactamente como sou conhecido." (1 Cor, 13, 11-12)
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Ingmar Bergman 3 (Tystnaden)
Incesto? Lesbianismo? A resposta está no espectador e não no realizador...
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Ingmar Bergman 2 (Smultronstället)
O júbilo de um Professor e os seus terrores nocturnos... Tudo menos linear...
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Ingmar Bergman 1 (Persona)
Agora uma série de "teasers" de filmes que mudaram o cinema para sempre... Palavras para quê?
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domingo, 29 de julho de 2007
BD para férias
Estamos em plena Roma antiga. O Imperador Cláudio assiste aos combates, pela sobrevivência, de gladiadores. À margem destes acontecimentos trágicos semeia-se a cólera num puro jogo de poder. Esta série é ideal para a nossa cara Charlotte. Espero que goste, mas caramba sete horas de espera é muito! Nem nas minhas repartições públicas isso acontece...
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sexta-feira, 27 de julho de 2007
Olissipografia 35 (1)
De facto, a Rua das Picoas cruzava a Avenida Fontes Pereira de Melo, confrade Bic Laranja. Pena é que o Monumental tenha estragado a festa...
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quarta-feira, 25 de julho de 2007
Olissipografia 36
Desta o Je Maintiendrai talvez goste.
Este era o palácio dos Marqueses de Alegrete. Entre os sucessivos proprietários do palácio contam-se figuras ilustres. O palácio ocupava uma área sensivelmente rectangular e tinha duas fachadas idênticas, sul e norte, respectivamente sobre o Largo Silva e Albuquerque e sobre a rua que separava o palácio das hortas do vale que se chamava Rua Martim Moniz. A terceira frente, onde estava a entrada principal, era voltada para o nascente, sobre a Rua da Mouraria; a quarta frente, a ocidental, parece que não tinha vãos abertos e ficava encostada a outro prédio que foi demolido por volta de 1936.
Todos os portais ostentavam frontões, ao centro dos quais ficavam as pedras de armas da Casa Teles da Silva, mas só a do portal da entrada principal durou até à demolição do palácio.
O palácio ficou bastante arruinado pelo terramoto de 1755, e foi reconstruído parcialmente depois deste cataclismo, não com a sumptuosidade que havia tido, mas adaptado a prédio de rendimento, tendo sido utilizado para estabelecimentos comerciais e industriais (refinação de açúcar, depósito de cereais, animatógrafo) e inquilinos vários. A Câmara Municipal de Lisboa, carecendo do terreno do palácio para melhorar a circulação pública naquele sítio, iniciou, no início dos anos trinta do século passado, negogiações para a sua aquisição e posterior demolição, o que veio a acontecer em 1946.
A incorporação da Rua Martim Moniz, o Largo Silva e Albuquerque, e um pequeno troço da Rua da Mouraria deu lugar ao largo que hoje conhecemos como...
Este era o palácio dos Marqueses de Alegrete. Entre os sucessivos proprietários do palácio contam-se figuras ilustres. O palácio ocupava uma área sensivelmente rectangular e tinha duas fachadas idênticas, sul e norte, respectivamente sobre o Largo Silva e Albuquerque e sobre a rua que separava o palácio das hortas do vale que se chamava Rua Martim Moniz. A terceira frente, onde estava a entrada principal, era voltada para o nascente, sobre a Rua da Mouraria; a quarta frente, a ocidental, parece que não tinha vãos abertos e ficava encostada a outro prédio que foi demolido por volta de 1936.
Todos os portais ostentavam frontões, ao centro dos quais ficavam as pedras de armas da Casa Teles da Silva, mas só a do portal da entrada principal durou até à demolição do palácio.
O palácio ficou bastante arruinado pelo terramoto de 1755, e foi reconstruído parcialmente depois deste cataclismo, não com a sumptuosidade que havia tido, mas adaptado a prédio de rendimento, tendo sido utilizado para estabelecimentos comerciais e industriais (refinação de açúcar, depósito de cereais, animatógrafo) e inquilinos vários. A Câmara Municipal de Lisboa, carecendo do terreno do palácio para melhorar a circulação pública naquele sítio, iniciou, no início dos anos trinta do século passado, negogiações para a sua aquisição e posterior demolição, o que veio a acontecer em 1946.
A incorporação da Rua Martim Moniz, o Largo Silva e Albuquerque, e um pequeno troço da Rua da Mouraria deu lugar ao largo que hoje conhecemos como...
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Olissipografia 35
Continuando a saga dos palácios, aqui vai o Palácio de Camaride, outrora situado na Praça Duque de Saldanha, que era a sede do Colégio Normal de Lisboa. Talvez o Bic Laranja nos possa auxiliar, em termos históricos...
à(s) 21:59 1 comentários
segunda-feira, 23 de julho de 2007
Olissipografia 34
Este palácio é do século XVIII e foi mandado erigir por um fidalgo da casa dos Cunhas, o Palácio Marim-Olhão foi pertença dos Condes de Castro Marim e Marqueses de Olhão durante largos anos. Também é conhecido por Palácio do Correio-Velho.
Muito cedo alugado a vários inquilinos, em 1801, o que torna desprovido este palácio de história familiar, foi onde funcionou, durante algum tempo, o Correio Geral, transferido do Palácio Penafiel (esse perto do Castelo). Entre 1840 e 1890, funcionou no Palácio o jornal "A Revolução de Setembro" e, no princípio do século passado, o jornal "A Batalha".
Muito cedo alugado a vários inquilinos, em 1801, o que torna desprovido este palácio de história familiar, foi onde funcionou, durante algum tempo, o Correio Geral, transferido do Palácio Penafiel (esse perto do Castelo). Entre 1840 e 1890, funcionou no Palácio o jornal "A Revolução de Setembro" e, no princípio do século passado, o jornal "A Batalha".
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Olissipografia 33
A pedido do nosso Je Maintiendrai, cá vai uma série de palacetes. Este primeiro é o palácio Valada-Azambuja (que, mais recentemente, albergou a 6.ª Conservatória do Registo Civil).
"Então começou a minha vida de milionário. Deixei bem depressa a casa de Madame Marques - que, desde que me sabia rico, me tratava todos os dias a arroz-doce, e ela mesma me servia, com o seu vestido de seda dos domingos. Comprei, habitei o palacete amarelo, ao Loreto: as magnificências da minha instalação são bem conhecidas pelas gravuras indiscretas da «Ilustração Francesa». Tornou-se famoso na Europa o meu leito, de um gosto exuberante e bárbaro, com a barra recoberta de lâminas de ouro lavrado, e cortinados de um raro brocado negro onde ondeiam, bordados a pérolas, versos eróticos de Catulo; uma lâmpada, suspensa no interior, derrama ali a claridade láctea e amorosa de um luar de Verão." (In Eça de Queiroz, O Mandarim)
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quinta-feira, 19 de julho de 2007
Baudelaire
La Fin de la journée
Sous une lumière blafarde
Court, danse et se tord sans raison
La Vie, impudente et criarde.
Aussi, sitôt qu'à l'horizon
La nuit voluptueuse monte,
Apaisant tout, même la faim,
Effaçant tout, même la honte,
Le Poète se dit : "enfin !
Mon esprit, comme mes vertèbres,
Invoque ardemment le repos ;
Le coeur plein de songes funèbres,
Je vais me coucher sur le dos
Et me rouler dans vos rideaux,
O rafraîchissantes ténèbres !"
Sous une lumière blafarde
Court, danse et se tord sans raison
La Vie, impudente et criarde.
Aussi, sitôt qu'à l'horizon
La nuit voluptueuse monte,
Apaisant tout, même la faim,
Effaçant tout, même la honte,
Le Poète se dit : "enfin !
Mon esprit, comme mes vertèbres,
Invoque ardemment le repos ;
Le coeur plein de songes funèbres,
Je vais me coucher sur le dos
Et me rouler dans vos rideaux,
O rafraîchissantes ténèbres !"
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terça-feira, 17 de julho de 2007
Nova edilidade
Aguarda-se a nova vereação camarária, muito à semelhança de oitocentos. Com uma diferença apenas: a população que aclama furiosamente é de Mirandela e foi reencaminhada de uma excursão frustrada a Fátima...
à(s) 23:37 0 comentários
Mistério blogoesférico
Dentro da aura do anonimato do nosso Jansenista descubro algumas matérias interessantes:
a) Enquanto que Fradique Mendes foi educado pela avó D. Angelina Fradique, com a presença constante de um frade beneditino, de um coronel francês e um alemão que lhe fala de Kant;
b) O nosso Jansenista foi educado com a presença constante de frades jansenistas e de alguém que lhe falou constantemente de Kant.
Será uma feliz coincidência ou temos laços familiares próximos do poeta satânico? Inclusive pergunto-me se teremos um novo Fradique em pleno século XXI... Por mera cautela vou procurar, nos alfarrabistas, os célebres textos daquele poeta, bem como de Kitzjz, Van Hole, Coppert ou Ulurug.
a) Enquanto que Fradique Mendes foi educado pela avó D. Angelina Fradique, com a presença constante de um frade beneditino, de um coronel francês e um alemão que lhe fala de Kant;
b) O nosso Jansenista foi educado com a presença constante de frades jansenistas e de alguém que lhe falou constantemente de Kant.
Será uma feliz coincidência ou temos laços familiares próximos do poeta satânico? Inclusive pergunto-me se teremos um novo Fradique em pleno século XXI... Por mera cautela vou procurar, nos alfarrabistas, os célebres textos daquele poeta, bem como de Kitzjz, Van Hole, Coppert ou Ulurug.
à(s) 23:21 0 comentários
domingo, 15 de julho de 2007
Volta matinal
O desafio dominical não podia ser mais estimulante. Com uma leve neblina e uma chuvinha reconfortante, fui encaminhado, por amigos, para Algés. Objectivo: chegar ao Parque das Nações de bicicleta. Ora, como tudo é plano e costumo andar bastante daquela forma não me pareceu difícil, e sendo um olissipógrafo aprendiz ainda melhor. Pus-me a caminho. É interessante reparar que a jornada é fácil até ao Cais do Sodré, mas a partir daí revela-se uma tarefa ingrata, por falta de condições. A circulação entre o Terreiro do Paço e Santa Apolónia é caótica e apela à imaginação. A chegada à antiga Expo entre os contentores do entreposto interminável revelou-se, de facto, desencorajadora, mas ao fim de uma hora e três quartos (numa média de dezasseis quilómetros horários) lá chegámos todos a bom porto, bem perto do pavilhão atlântico. Uma volta a repetir mais vezes... Muito interessante, mas com direito a proeminentes calos nas mãos e no traseiro.
à(s) 17:49 0 comentários
School (Supertramp)
I can see you in the morning
When you go to school
Don't forget our books,
You know you've got to learn the golden rule.
Teacher tells you
Stop your play and go on with your work,
And be like Johnnie Toogood.
Don't you know he never shrinks, he's coming along
After school is over Your playing in the park,
Don't be out too late
Don't let it get too dark.
They tell you not to hang around
And learn what life's about
And grow up just like them,
Won't let you work it out
And you're full of doubt
Maybe I'm mistaken
Expecting you to fight
Or maybe I'm just crazy
I don't know wrong from right.
But while I'm still living
I've just got this to say
It's always up to you, if you want to be that,
Want to see that, want to see it that way.
Don't do this and don't do that
What are they tryin' to do ?
Make a good boy of you,
Do they know where it's at?
Don't criticise they're old and wise
Do as they tell you to,
Don't want the devil to,
Come and pull out your eyes.
You're coming along
When you go to school
Don't forget our books,
You know you've got to learn the golden rule.
Teacher tells you
Stop your play and go on with your work,
And be like Johnnie Toogood.
Don't you know he never shrinks, he's coming along
After school is over Your playing in the park,
Don't be out too late
Don't let it get too dark.
They tell you not to hang around
And learn what life's about
And grow up just like them,
Won't let you work it out
And you're full of doubt
Maybe I'm mistaken
Expecting you to fight
Or maybe I'm just crazy
I don't know wrong from right.
But while I'm still living
I've just got this to say
It's always up to you, if you want to be that,
Want to see that, want to see it that way.
Don't do this and don't do that
What are they tryin' to do ?
Make a good boy of you,
Do they know where it's at?
Don't criticise they're old and wise
Do as they tell you to,
Don't want the devil to,
Come and pull out your eyes.
You're coming along
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sábado, 14 de julho de 2007
sexta-feira, 13 de julho de 2007
Acto de contricção
O templo é maravilhoso, mas não presto muita atenção. Entro nas suas portas altas e sinto-me pequeno. Quero confessar-me, mas receio a minha pena. Sou um exactor puro e duro, não olho para os outros da mesma forma que Jesus olhou quando resumiu os dez mandamentos a um só "amai-vos uns aos outros como eu vos amei". Como é isso possível quando só é possível amar se todos contribuírmos? Este meu conflito interno leva-me a repetir as palavras em latim que decorei em criança: "Deus meus, ex toto corde paenitet me omnium meorum peccatorum, eaque detestor, qui peccando, non solum poenas a te iuste statutas promeritus sum, sed praesértim quia offendi te, summum bonum, ac dignum qui super omnia diligaris.Ideo firmiter propono, adiuvante gratia tua, de cetero me non peccaturum peccandique occasiones proximas fugiturum.Amen."
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quinta-feira, 12 de julho de 2007
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